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No final do ano passado, li um livro chamado
‘Abril Despedaçado’, de Ismail Kadaré, o qual conta a vida de montanheses do
norte da Albânia que vivem e convivem regidos por um código de conduta chamado Kanun, que determina comportamentos e o
mote principal do livro: as históricas vendetas familiares. É um livro que
recomendo como curioso, mas não como interessante; não me agradou muito.
O que passo a relatar não tem nada a ver com
o livro. Começou no final de 2010, depois do Natal e antes do Réveillon, quando
minha esposa descobriu que estava grávida.
A partir desse dia, todos os familiares
próximos se encheram de alegria – principalmente as duas avós de primeira
viagem -; tudo girava em torno daquele bebê, passamos até a ser tratados de maneira
diferente por alguns familiares, não sei explicar bem...
Então começaram exames, compras,
sensibilidade aflorada, sonhos!
Tudo caminhava melhor do que poderia,
inclusive sem enjoos. Mas, em meados de abril, minha esposa sentiu algumas
dores e precisou ser internada. Ficou nessa situação por uma semana precisando
fazer repouso absoluto e com diagnóstico de infecção na urina.
Recebeu alta, voltou para casa no início da
tarde, mas antes de eu voltar do trabalho para casa as dores voltaram com muita
intensidade; e ela precisou ser levada de volta ao hospital quase na madrugada.
O médico plantonista a examinou e constatou
que ela estava em trabalho de parto e o bebê estava apontando no canal vaginal,
encaminhando-a para a sala de parto. Ela queria que eu a acompanhasse, mas os
médicos não permitiram.
Fiquei com minha sogra e minha cunhada na
sala de espera da maternidade; telefonei para meus pais e minha irmã para
informá-los da situação.
Após algum tempo, a pediatra veio me chamar
para que eu pudesse ver o bebê - caso quisesse - e para informar que eles
haviam tentado de tudo, mas que devido à prematuridade do nascimento, ele não
havia sobrevivido...
Ele se parecia muito comigo..., não que eu
seja, mas ele era lindo..., cabeludo, todo formadinho...
Procurei minha esposa, pois precisava saber
como ela estava, tive que ser forte para poder confortá-la. Ela parecia bem,
mas nossos corações estavam em pedaços. Os nossos e os de todos que recebiam a
notícia.
Nessa noite, não dormi, tive que correr para
todos os lados com registro de nascimento, registro de óbito, contratação de
serviço público funerário, roupinhas para vesti-lo, velório, enterro...
Acredito que nunca tenha sentido tamanha
dor... Durante o velório, chorei copiosamente, solucei... Carreguei seu pequeno
caixão branco nos braços até sua sepultura...
Neste final de semana que passou, dia 27, ele
completou dois anos!
Agradeço a Deus a permissão de ter me tornado
pai!
Agradeço ao Benício pela sua breve passagem
em nossas vidas!
Onde quer que esteja, quero que saiba que
lamentamos não poder cuidar de você fisicamente, mas você faz parte das nossas
vidas e nós te amamos muito!
Esse foi meu Abril Despedaçado!